sábado, 31 de julho de 2010

Brinquedo quebrado


tua boca faminta de verdades e mentiras
surgiu um cais, um porto qualquer
enganou a lua tão tua
com palavras que não eram suas
fez de mim um brinquedo quebrado
retalhos de um amor qualquer
jogou no poço
um amor tão moço
e tão velho.



Josinalda Lira

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Poema passageiro



não estrague o canto
perdoe o manto
banhado em lágrimas
eu como um filho
faço filho pra namorada
e vou fiando extravasando esse cantar
sou andarilho sem ninho pra descansar
amo – te tanto
esse meu pranto não vai passar
porque tão longe
vou seguindo
sem te encontrar.



Josinalda Lira

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Coisas esquecidas




serei, eu ou parte de mim
que cansada viverá muda
e vivendo na nudez do silêncio
num lugar qualquer do esquecimento
morta na sutileza do pensamento
nem o nome gravado na lembrança
nem uma folha de papel com palavras
nem uma música na madrugada
faz lembrar... faz saber
nem um único gesto de carinho
nem um toque macio de minhas mãos
nem o perfume... faz recordar
se estou morta em todos os sentidos
permanecerei como tal
e nos segundos que se seguem à vida
essas coisas esquecidas... morrem comigo.




Josinalda Lira

Gota da chuva


alguém esqueceu a porta do céu aberta...
e deixou fugir um anjo
que saiu à procura de abrigo
e nunca tinha visto terra tão estranha
sacudindo suas asas de santo
protegendo-se no canto.
chovia muito naquela noite sem estrelas

foi quando eu vi.
cheio de amor e paz, os olhos tão azuis.
um céu azul perdido
naquele rosto bonito
no susto ele sorriu
seu sorriso era como o vento ao entardecer
era tudo que ia e voltava naquele sorrir.

abriu a boca para falar
mas eu tive medo
pensei em fugir.
e ele me tocou
foi como um arco-íris
naquela manhã fria e cálida
refazendo-se de luz, reluzindo luz.

quando percebi
ele acariciava meu rosto
era como um mergulho no mar.
e o mar não era ele
eu não era o mar
éramos apenas
uma gota da chuva.




Josinalda Lira

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Homem pássaro



você é um pássaro!
eu não sabia que tinha asas e voava
e cortava os céus como uma águia
que possui o mar
enfeita o sol
e à noite,encanta a lua
mas depois das primaveras sem flores
voou e buscou todos os perfumes
presos na garganta
no mar ... pensou nos peixes
no sabor de sua carne
mas não os pescou
por medo de feri-los
eu tentei te agarrar
sem te ferir
mas eu não sou um pássaro
e você com todo seu calor não poderia me aquecer.



Josinalda Lira

Amante do rei



És rei antes de tudo
Tomaste milhares de castelos e quando entrei em tua vida
Já eras dono da imensidão, e eu pobre artesã
Tecia fios de seda para cobrir teu corpo
Humilde e apaixonada
Amava-o nas madrugadas, nada, mas além do meu rei, eu desejava.
Até que um dia me tornei um pássaro e saí voando...
Ouvindo a tua voz gritando: volte! Ordeno!
Se tivesses dito: te amo!
Eu teria voltado.





Josinalda Lira

sábado, 24 de julho de 2010

O bem e o mal



depois daquela noite
fui ao inferno e voltei
o bem e o mal
escolhesse para mim o mal?
pediu pra não pensar em você
não ligar!
pois não havia sentimento algum
o meu corpo quente
de repente , transformou- se em um lugar
frio e mórbido
na minha boca o sabor da morte
no meu corpo, vermes
anjo?
talvez nunca foras
nem sei quem eras
hoje nem sei quem sou.

Josinalda Lira






As asas da inocência


(ao meu filho Lennon )



as asas da tua inocência me levam pra casa
levam-me pra um lugar bem perto do paraíso
para uma felicidade com gosto de pipoca doce
de brinquedos feitos com cartolina e pincéis.


as asas da tua inocência me fazem voar ao interplanetário
colher estrelas como se fosse fruta madura
com cores e tintas guache colorindo a lua
fazendo das nuvens formas de carros e pião.


as asas da tua inocência me fazem viajar aos sonhos
a mares calmos com piratas do bem
a tesouros imagináveis, preciosos como seu sorriso.


as asas da tua inocência me enlaçam com ternura
em uma corrente de energias transcendentais
desejando um dia alcançar o seu mais alto vôo.


Josinalda Lira

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Meu príncipe desencantado


durante o início do ano de dois mil e dez
era uma vez o meu príncipe encantado
virou fera, e eu, alimento para sua sobrevivência.
um animal feroz que alimentei
agora desejava meu cérebro
e minha vontade de partir
já não bastava ter roubado meu coração?
queria entendê-lo, amansá-lo como antes.
nada do que eu havia feito tinha importância
nada do que eu falasse era ouvido
virou um sapo medonho, enverrugado
onde a coragem para beijá-lo?
cada vez mais me queria para ceia
tinha que fugir daquele castelo de lama
daquele baile de mascarados sentimentos
a redoma de seu falso amor estava me sufocando
a fuga: um fosso, um dragão que morava no lago do meu desespero.
um bosque cheio de armadilhas e bruxas loucas por feitiços
tinha que encarar a solidão das noites estreladas e frias
e viver novamente como plebéia no mundo pagão
rezar para Deus noite e dia, um terço em promessa, com os joelhos ao chão!
que não me mande um príncipe
e sim, um homem comum que me ame para todo o sempre.
para que eu possa como nos contos de fada, ter um final feliz.

Josinalda Lira


Prisão íntima



o mal sofra meu corpo; viaja nas curvas da minha existência
diga à bondade dos justos que eu a quero
também à misericórdia e ao perdão
desliza entre minhas mãos o céu
o inferno a um passo descalço do fogo
qualquer descuido a larva corrói as minhas vestes
diga a felicidade que me faça uma visita
qualquer dia desses um anjo bom me leve pra voar
rezo aos céus que me tire do castigo
o tempo cárcere da minha boca escarlate me deixe ir...
diga às flores do meu jardim que venham comigo ao fechar meus olhos.
diga também àquele homem que eu não consegui perdoá-lo
tenho fome das palavras verdadeiras, comeria todas elas
fale pro vento que sinto falta de suas carícias em meus cabelos...
queria reaprender a rezar o credo na madrugada
e fugir dos anti- cristos da terra
quero gritar para o cosmo o grande e inesperado retorno do amor
o nascimento gerador do espetáculo amar.


Josinalda Lira